Cumprimento a todos, sejam todos bem vindos, fiquem a vontade!

Nós estamos no segundo dia do nosso Rebanhão, que tem sido para nós um Oasis que nós experimentamos, nos alimentamos, próximo a iniciarmos a quaresma. Ao longo desses anos, o Senhor tem cuidado para que antes da Quaresma nós possamos mergulhar na sua misericórdia, fazer as reflexões de vida, o Rebanhão é esse momento especial, esse tempo de graça que nos prepara para celebrarmos bem a santa Quaresma.

Ouvimos no evangelho nesse dia uma determinação do coração de Jesus, uma ordem, vende tudo que tens e segue-me. O jovem rico perguntou a Jesus o que fazer para ganhar a vida eterna, não é qualquer vida é a eterna, é a eternidade.

Creio que como esse jovem, nós temos corrido aos pés de Jesus, fazendo perguntas como essa. O que devo fazer para ganhar a eternidade?

Para ganhar a eternidade conforme o Senhor nos ensina no primeiro momento, é vender tudo, desfazer de tudo, sobretudo aquilo que te afasta do Senhor, aquilo que tem lhe afastado da graça, tudo que faz correr o risco de perder a eternidade.

Jesus com sabedoria divina direciona-nos bem como direcionou o jovem. Nos direciona aos mandamentos, porque é o caminho, é a instrução do alto para ganharmos a eternidade.

Ele nos ensina a recorrer aos mandamentos, porque está no coração de Deus, para escutar o seu amor, sua vontade a nosso respeito, observar os mandamentos.

Na primeira carta de São João ele vai dizer: os mandamentos do Senhor não são pesados para aquele que está disposto a deixar tudo, a vender tudo. Nada nesse mundo é mais importante, nada tem mais valor do que o reino, do que a eternidade.

Quando nos apegamos demais as coisas e pessoas, se torna um fardo, um peso os mandamentos, se torna um peso deixar tudo. O não querer se curvar, não querer obedecer, porque acha que eles atrapalham a liberdade, a felicidade.

Não querer observar os mandamentos, um sim e o não em relação aos mandamentos, porque eles vão nos instruindo vão nos direcionando levando-nos à renúncias.

Nos aproximamos do tempo quaresmal, precisamos observar os mandamentos, o jejum, as mortificações, as renúncias, para ganhar o reino, para ganhar o céu.

Vende tudo que tens, depois vai e segue Jesus com seu olhar cheio de amor, um olhar que atravessa a alma, o olhar de Jesus é assim, a sua ternura, o seu amor nos constrange.

O amor Dele constrange, não renunciais o amor de Jesus. Longe de nós renunciarmos o seu amor, longe de nós a dureza de coração, longe de nós corações de pedra nos colocando distante Dele.

Talvez nós queremos algumas coisas de Jesus mas não outras, mas em Jesus nós precisamos de tudo.

Quando o pai disse ao filho pródigo, tudo que é meu é teu, e tudo que é teu é meu, deve ser assim entre eu e Jesus, tudo que é Dele é meu, tudo que é meu é Dele, sem reservas.

Por que queridos filhos e filhas esse coração endurecido que nós olhamos para Ele na nossa caminhada? Por que nós vamos dando umas medidas pequenas?

Ensina-nos Jesus a termos medidas grandes, magnânimas, generosas, porque Ele nos quer todo, por inteiro, porque Ele se entregou todo a nós, sem reservas. Sua morte de cruz não foi simplesmente um pouquinho Dele, foi tudo. Na Eucaristia O recebo por inteiro, Ele nunca é pelas metades para comigo, nunca.

Jesus não nos dá simplesmente um pouco ou a metade, pelo contrário nos dá por inteiro, por completo. E porque eu tenho essas medidas pequenas?

Nesse caminho do reino como eu tenho que me tornar um cristão melhor, um bispo melhor.

Talvez a gente fica dizendo que vai melhorar. Que bom, essa esperança é boa!

O que nos reserva esse ano queridos filhos e filhas? O ano da Misericórdia, o ano jubilar, Deus escancarando seu coração uma vez mais a nós, dizendo vinde a mim.

E nós podemos dizer como Pedro: a quem iremos? Eis o tema do nosso Rebanhão: a quem irei Jesus? É ele mesmo que se apresenta, Ele que se mostra como caminho, verdade e vida.

Então Jesus com olhar cheio de amor, e misericórdia, que atravessa a alma diz: uma coisa te falta filho, filha, uma coisa te falta. Vende de tudo que tens dá aos pobres e terás um tesouro no céu, depois vem e segue-me.

Nosso Senhor quer uma radicalidade de vida não tenho dúvida disso. Talvez agora no nosso coração há uma inquietação, vai passar essa inquietação de Jesus no nosso coração. Para deixar aqui como Jesus pede é preciso uma revisão de vida, uma reflexão mais profunda e talvez agora nós não tenhamos condições de deixar tudo.

E eu que achava que entrar para o seminário já era sinônimo de deixar tudo. Mentira, a gente deixa, depois vai e busca aquele tanto de mal de volta.

A gente vai deixando ao longo do caminho, depois lá na frente a gente acha que o Senhor descuidou de nós, e a gente volta pegando as coisas, e quando percebe tá cheio. E o senhor tá dizendo vende tudo filho, vende tudo filha. Jesus não pede simplesmente a observância dos mandamentos, mas uma entrega total, entrega generosa.

Os milagres maiores não acontecem na minha vida, porque eu tenho uma medida pequena em relação a Jesus, medida pequena em relação ao próximo, que mais precisa.

Quais são essas medidas? medidas de amor, medidas de misericórdia, sacrifício. As medidas do Cristo devem estar repletas no nosso coração. Ele não quer apenas nosso comportamento correto, Ele quer o nosso coração inteiro, doado a Ele.

Para aquele jovem sua riqueza era obstáculo, o que impedia de seguir plenamente a Cristo. Foi impossível para ele seguir a Jesus.

E nós queremos seguir, mas há algo que nos prende. O que lhe prende, o que lhe impede de seguir Jesus? O que me impede de segui-Lo de forma mais objetiva, mais amorosa, mais profunda?

Para que graças e graças aconteçam na minha vida, na minha casa, em favor também dos outros, eu preciso de confiar mais no Senhor, entregar a minha vida, colocá-la em suas mãos.

O problema sério que acontece com o jovem, pode acontecer conosco, foi embora muito triste, abatido, pois era muito rico. A palavra lhe provocou, Nosso Senhor lhe provocou, e o comportamento foi sair pela tangente. Não vou me arriscar, não estou pronto para me entregar 100%, não estou pronto para isso. Isso é coisa de padre, de freira, de bispo, isso não é para mim.

Mas nós padres dizemos assim: mas eu já entreguei, mas eu já deixei tudo. Será?

Eu gostava de cantar essa canção, mas depois eu deixei de cantar: aonde mandar eu irei, seu amor eu não posso ocultar, quero anunciar para o mundo ouvir que Jesus é o nosso salvador…

É estranho cantar isso, não poder dizer com certeza, ir onde o Senhor está me mandando ir. São tantos lugares mas eu não vou. Você vai em todos os lugares anunciar o Senhor?

Uma coisa é falar, cantar e rezar, outra coisa a gente dizer assim: eu vou fazer isso lema da minha vida.

É claro que essa doação a Jesus, é de acordo com a nossa realidade de vida. O que o Senhor me pede, não pede a você. Ele vai pedindo à medida que nós possamos, dentro da sua medida. Dentro da medida de Jesus, aquilo que Ele lhe pede.

Você está indo além, porque o primeiro comportamento meu é não ir além, é a minha medida agora. Não, depois eu vou, talvez. Num primeiro momento eu me encolerizo, o Senhor me mandar a ir em todos os lugares, mas não vou.

Como está sua medida? Visitar um enfermo, rezar por alguém?

Com tanta coisa para fazer, assim nossa medida vai nos conduzindo, não a medida de Jesus.

O problema não era a riqueza em si, mas o lugar que ela ocupava no coração do jovem. Jesus sabia que a verdadeira segurança do jovem estava em seus bens e não em Deus.

Às vezes pode ser que não sejam bens materiais, mas pode ser bens que vamos guardando no coração, falsas seguranças, um jeito de ser igreja que eu quero ser, com medidas pessoais.

Então o movimento do Cristo, o movimento espiritual de conversão que agrada o Senhor não acontece. O exercício grande de ouvir a voz do Espírito, com docilidade do coração, o chamado para ouvir o apelo do Senhor, uma vez ouvindo o Senhor, escutando seu coração nos deixarmos ser movidos pelo Espírito Santo.

O vento sopra onde quer, você ouve o ruído não sabe de onde vem, nem para onde vai, assim acontece com aquele que nasce, podemos dizer, aquele que é conduzido pelo Espírito.

Isso é uma vida de perdas queridos filhos e filhas, vida de perdas, talvez mais para nós, ainda em todos os sentidos da palavra. Nós que estamos consagrados nessa missão mais ainda. Vocês de acordo com a vocação, com o estado de vida.

Mas a vida precisa ser conduzida pelo Espírito, caminhar movidos pelo Espírito, para quando o Senhor falar, nós de maneira muito humana claro nos organizarmos, discutimos um com o outro, rezar, acolher no coração a palavra do Senhor, e lançarmos, para que as coisas aconteçam conforme a vontade Dele, não conforme a minha, eis o desafio, escutar o coração de Cristo, deixar ser conduzido pelo Espírito.

É difícil para os ricos entrar no reino de Deus, não porque seja um mal, mas por confiar mais em si mesmos, do que Nele. A riqueza dá uma falsa sensação de controle, e sufoca a dependência que devemos ter no Pai.

Dependência de Deus, em tudo consultar o Senhor, em tudo, tudo que eu vou fazer, consultar o Senhor. Isso chama-se vida íntima com o Espírito, consultar Jesus, escutar Dele. Para isso precisa ter docilidade no coração, porque quando Ele falar eu devo estar atento.

Jesus não cuida de nós com nossas medidas pequenas. Ele respeita, espera a gente perceber o que Ele já tinha avisado.

Temos que rezar mais um pouco, escutar mais, deixar se conduzir mais, ouvir o Senhor, entregar-se mais, confiar mais, lançar-se mais.

Quem pode viver uma vida assim? temos pessoas que são conhecidas pela igreja, mas temos aquelas que são anônimas, que entregam tudo e talvez nem saibamos.

Que Jesus nesta Eucaristia forme o nosso coração de um modo espiritualmente tão grande, tão generoso para que possamos trabalhar isso nesse ano jubilar.

Ele nos convida a abandonar tudo aquilo que nos impede de segui-Lo de todo coração, abandonar as falsas seguranças. Ele nos propõe a desprender do que nos afasta Dele. Aos arrependidos Deus concede o caminho do regresso e conforta aqueles que perderam a esperança.

Ainda não aprendemos a ser igreja de Jesus, mas aos arrependidos Deus concede o caminho do regresso. Volta ao Senhor e deixa teus pecados, suplica em sua presença e diminui tuas ofensas, murmúrios e reclamações.

Aproveitem o grupo de oração, precisamos restaurar os grupos de oração. Escutar o coração do Senhor, em casa, no trabalho, dar abertura a Cristo para que Ele de fato reine. Estar disposto, atento para escutar o Senhor, ter abertura de coração para desfazer de tudo aquilo que me tem afastado Dele.

Tudo que o Senhor foi te falando esses dias, faz um programa espiritual para trabalhar na Quaresma.

Decidimos as coisas que queremos, depois a gente coloca culpa em tanta coisa.

Pedro vendeu tudo e seguiu Jesus. Eu acho que eu não deixei tudo, vim para Brasília uns anos atrás para estudar, trabalhar, queria ganhar muito dinheiro, queria fazer agronomia, jamais imaginei na minha vida em ser padre, jamais, muito menos Bispo. Isso tudo o Senhor foi realizando.

Sempre temos um jeitinho para fazer prevalecer a nossa vontade.

Mas quem deixar tudo por Jesus, receberá 100 vezes mais do que antes, nesse mundo, e no tempo futuro, a vida eterna.

O que mais vale para nós é a eternidade. É preciso de entrar nessa dinâmica, vender tudo, porque receberei 100 vezes.

Nesse ano jubilar façamos experiências mais profundas com o Senhor, procuremos estar em sintonia com Jesus, em comunhão com Ele.

Busquemos a confissão, vida de oração, intensifique as súplicas e Ele cuidará de nós.

Vamos dizer assim: Senhor eu acolho no meu coração, apesar das minhas misérias, fraquezas, eu acolho no meu coração essa verdade e eu quero viver isso de verdade. Vai custar, vai doer deixar coisas, desfazer não é simples, é um movimento sério que eu preciso fazer, porque eu não quero perder a eternidade, porque o Senhor é comigo. Obrigado por esta palavra, por esse desafio que o Senhor me lança hoje, a vender tudo, tenho muitas coisas, muitos apegos, mas eu quero desfazer de tudo aquilo que me afasta de vós e sobretudo Jesus aquilo que faz perder a eternidade. Amém!

Homilia: Dom Vicente Tavares – Bispo Auxiliar – Arquidiocese de Brasília-DF
Texto por Ainara Veloso
Ministério de Comunicação Social – RCC-DF